Uma declaração de amor às cidades por onde passa, a arte urbana é um exemplo de manifestação artística que celebra a cultura e a história de variadas regiões espalhadas pelo mundo por meio da street art, ou arte de rua. Com murais de grafite, estêncil, lambe-lambe, esculturas e apresentações ao vivo, a arte urbana aproxima a população do consumo de arte, expandindo sua presença antes limitada a espaços mais higienizados como museus, bibliotecas e teatros, tornando-a parte da vida cotidiana em sociedade.
Por meio de cores, formas, desenhos e muito trabalho duro, as empenas dos prédios – outrora cinzas e sem muita identidade – ganham vida e passam a ser características do DNA daquela região. Os benefícios são inúmeros, afinal, uma cidade bonita e que representa sua cultura por meio da arte movimenta não só a sua economia e turismo, mas acima de tudo, traz sensação de pertencimento a quem habita e ajuda a construir esses espaços diariamente.
No artigo de hoje, o Casoca conta um pouco sobre o nascimento e o impacto dessa manifestação nas cidades, incluindo um bate-papo com Priscila Amoni, diretora do Circuito Urbano de Arte (CURA), movimento que “redefine a paisagem urbana, promovendo a arte como um elemento essencial na construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente”.
Qual é a origem da arte urbana?
Não existe uma data específica que celebre o surgimento da arte urbana, mas em meados dos anos 1970, esse tipo de manifestação cultural já dava as caras nos Estados Unidos de forma passageira. No entanto, muitos estudiosos argumentam que a arte urbana já existia desde a antiguidade e só não era devidamente nomeada como tal.
Por meio de apresentações de teatro que envolviam música e dança ou dos desenhos espalhados pelas cidades, como na Grécia e Roma Antigas, esse tipo de expressão já era utilizado como meio de comunicação para abordar temas diversos que iam desde críticas sociais e políticas até o resgate e a celebração da cultura local.
A arte urbana no Brasil
No Brasil, a chegada da arte urbana acontece em uma época de grandes conflitos políticos na ditadura militar, ficando marcada pela presença do grafite espalhado pelos muros – e muitas vezes utilizado para enviar mensagens críticas ao governo -, em especial na cidade de São Paulo.
Reverenciado como um dos primeiros grafiteiros do país, Alex Vallauri foi um artista etíope que mesclava o estilo kitsch com a arte pop e tinha o estêncil e o largamento como suas principais técnicas de trabalho na cidade paulista. Apesar da morte precoce, Vallauri segue sendo uma influência para a arte urbana no Brasil. No dia 27 de março, é celebrado, em sua homenagem, o Dia Nacional do Grafite.
Por coincidência do destino, no mesmo ano em que Vallauri partiu, um dos maiores representantes da arte urbana brasileira no mundo, Eduardo Kobra, iniciava o que viria a ser uma carreira de sucesso com obras em 35 países. Uma delas, o mural “Etnias”, feito no Rio de Janeiro em 2016, foi reconhecida pelo Guinness Book Records, o livro mundial dos recordes, como o maior mural de grafite do mundo.
Com 15 metros de altura e 170 de cumprimento, o mural retrata rostos indígenas de cinco continentes, sendo eles: os huli, da Nova Guiné (Oceania), os mursi, da Etiópia (África), os kayin, da Tailândia (Ásia), os supi, da Europa, e os tapajós, das Américas.
Tipos de arte urbana no Brasil e no mundo
Existem diversas formas de manifestação artística e cultural em que a arte urbana se faz presente. Nos espaços públicos, é possível notar como a história das cidades é contada por desenhos, gravuras e pinturas que aproximam a população do consumo de arte em novos ambientes.
Conheça alguns exemplos de arte urbana na vida cotidiana:
- O grafite é uma das mais populares expressões artísticas e pode ser visto em desenhos e pinturas nos espaços públicos da cidade. Recentemente, foi reconhecido por lei como manifestação da cultura brasileira, garantindo a livre expressão da arte e fomentando o apoio e a valorização da mesma pelo governo.
- A técnica de impressão estêncil permite a aplicação de desenhos e ilustrações com tinta ou aerossol em qualquer superfície.
- Os famosos lambe-lambe, ou pôster-bomber, são cartazes que variam de tamanho e material, aplicados nos espaços públicos, podendo ser também uma forma de publicidade.
- Popularizada na década de 90, a sticker art é um tipo de arte urbana alternativa que utiliza adesivos como meio de expressão artística na cidade.
- A estátua viva é uma performance artística que acontece principalmente em locais públicos, onde o artista de rua estático prende a atenção do público por meio do controle corporal.
- As esculturas utilizam o espaço como um elemento fundamental para instalações artísticas variadas.
- Um dos exemplos mais conhecidos, as apresentações ao vivo levam a dança, poesia, a música, o teatro e o circo para os espaços urbanos.
Como a arte urbana transforma as cidades?
Por meio de desenhos, pinturas, gravuras, poemas e inúmeras vertentes da arte urbana espalhadas pelas ruas, é possível desenvolver um novo olhar para a cidade a partir da interação da população local com manifestações artísticas e coletivos que fomentam a arte.
Co-criadora do CURA – Circuito Urbano de Arte, a também artista Priscila Amoni reflete sobre como a paisagem urbana fica cinza e opressora sem a presença da arte nos espaços públicos: “colocar arte nesses painéis traz um respiro [para a cidade] que vem da própria arte e das reflexões que aquele trabalho traz”, diz Amoni.
O CURA, que nasceu em 2017 na capital mineira, é feito por mulheres e se destaca pela abordagem e trato com a população local e cultura das comunidades presentes nas regiões onde o movimento já atua. Um exemplo é o mirante de arte indígena amazônica, o primeiro do mundo, que está sendo feito em Manaus: “enquanto festival, queremos servir como meio e instrumento para dar a ver essa cultura que está marginalizada”, diz Priscila.
A interação com o público e o feedback depois das instalações também vem carregada de questionamentos, incluindo dúvidas sobre a manutenção dos murais, que podem deteriorar com o tempo. “Nós entendemos que, depois de pronto, entregamos o mural para a cidade e a mesma tem que o abraçar também. É um festival que traz uma contribuição imensa para o turismo e a economia local, por isso, contamos com a contribuição do poder público para fazer essas manutenções”, diz a artista.
Com patrocínio da Claro, a 10ª edição do CURA acontece entre os dias 24 de outubro e 03 de novembro em Belo Horizonte. Além da programação interativa prevista para os 11 dias de evento, a edição 2024 terá também a maior empena de arte urbana do Brasil. Uma criação da artista Clara Valente, reconhecida como a primeira grafiteira de BH.
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