Os estádios de futebol chamam atenção na paisagem urbana não só pelo tamanho, mas também pelo seu valor simbólico. Para muitas pessoas, eles são marcos importantes na história de vida, ajudando a moldar identidades pessoais e coletivas.
O Mineirão, por exemplo, é um dos marcos mais icônicos da história do futebol. Inaugurado em 1965, o estádio já recebeu milhões de torcedores, foi cenário de grandes conquistas e se tornou um símbolo da paixão pelo esporte no Brasil.
Com o passar dos anos, a necessidade de modernização e adaptação às exigências internacionais fez com que o Mineirão passasse por uma revitalização significativa para a Copa do Mundo FIFA de 2014. Concluída em 2012, a mudança não só preservou sua grandiosidade, mas também o transformou em um exemplo de arquitetura esportiva moderna e sustentável.
Para aprofundarmos esse assunto e exemplificarmos a arquitetura esportiva por meio de um dos maiores estádios do mundo, conversamos com os responsáveis pela modernização do Mineirão: Silvio Todeschi, Bruno Campos e Marcelo Fontes, diretores da BCMF Arquitetos, Antônio Sérgio, diretor da Engserj e Otávio Góes, gerente técnico do estádio. Na conversa, exploramos os detalhes da transformação, desde os motivos que levaram a ela até seu impacto para o Brasil como um todo.
Para começo de conversa, o que é arquitetura esportiva?
A arquitetura esportiva é o ramo da arquitetura que se dedica ao planejamento, design e construção de espaços destinados à prática esportiva – isso inclui estádios, arenas, ginásios, centros de treinamento e outros tipos de instalações esportivas. Vale lembrar que, nos últimos anos, os estádios têm sido projetados não apenas como locais de competições, mas também como pontos de encontro social, centros de entretenimento e símbolos arquitetônicos das cidades.
A evolução da arquitetura esportiva tem sido marcada por inovações tecnológicas e pela crescente demanda por sustentabilidade e acessibilidade. Além de atender a necessidades funcionais e de segurança, ela também busca proporcionar uma experiência única para espectadores e atletas, criando espaços que promovam a integração entre o público e o espetáculo.
Além disso, a arquitetura esportiva frequentemente reflete a cultura e os valores sociais. Por meio de um design cuidadoso e da incorporação de elementos culturais locais, esses projetos podem se tornar símbolos importantes da identidade cultural de uma comunidade.
Mineirão: exemplo de arquitetura esportiva de sucesso
Oficialmente chamado Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão foi construído para ser o maior estádio de futebol do Brasil na época, com uma capacidade inicial de cerca de 130 mil espectadores. Projetado pelos arquitetos Eduardo Mendes Guimarães Júnior e Gaspar Garreto, que trabalhavam no Escritório Técnico da UFMG, o estádio tornou-se um marco do modernismo brasileiro, com seu formato elíptico e a estrutura de concreto armado.
Desde sua inauguração, o Mineirão recebeu inúmeros jogos memoráveis, incluindo partidas da Copa do Mundo de 1970 (as eliminatórias) e de 2014, além de diversos clássicos do futebol brasileiro. O estádio também já foi palco de shows, eventos religiosos e culturais, consolidando-se como um espaço multiuso e um símbolo da identidade mineira. Hoje, com uma área total de 320 mil m² e capacidade para mais de 60 mil espectadores, o Mineirão se destaca como uma das maiores estruturas esportivas do país, oferecendo amplo espaço para lazer e entretenimento.
O que motivou a revitalização do Mineirão em 2010?
A decisão de modernizar o Mineirão veio no contexto da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. Com o objetivo de se alinhar aos padrões internacionais da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) e proporcionar uma experiência mais completa aos torcedores, a mudança visou modernizar o estádio sem perder sua essência histórica.
Dessa forma, em 2010, 45 anos após sua construção, o Mineirão fechou as portas e interrompeu todas as suas atividades pelo período de dois anos. Os profissionais envolvidos buscaram transformar o estádio em um moderno complexo esportivo multifuncional, intervindo de maneira respeitosa e, ao mesmo tempo, radical, reforçando a monumentalidade da arquitetura original do Mineirão.
O estádio, portanto, não passou apenas por modificações arquitetônicas ou melhorias para atender aos requisitos da FIFA, mas por uma transformação no seu uso, no perfil do público e no valor simbólico do local. Ou seja, foi muito mais do que uma mudança estrutural; houve principalmente uma mudança conceitual e de entendimento do espaço.
Saiba o que foi feito durante a revitalização
Antes da mudança, o Mineirão sofria com problemas como a falta de conforto, segurança, acessibilidade e tecnologia adequada.
A modernização trouxe uma série de melhorias, elevando o estádio a um padrão internacional. O objetivo era valorizar o patrimônio histórico, criando uma estrutura enxuta e elegante que pudesse acomodar todos os tipos de eventos e, ao mesmo tempo, criar um espaço de lazer para toda a cidade. Como solução, os profissionais propuseram manter e restaurar a estrutura externa original, que é tombada, enquanto o interior foi completamente renovado.
Esplanada e entorno
Com mais de 200 mil m², a esplanada foi projetada para se adaptar ao terreno, criando espaços escalonados conectados por rampas e escadarias. O espaço é acessível de todos os lados e separa pedestres e veículos, criando um grande parque suspenso sem a interferência de veículos e operações.
Além do Museu do Futebol, foram criadas lojas que somam mais de 7 mil m² de área comercial e institucional que visam atrair movimento contínuo, mesmo fora dos dias de jogos. No acesso sul, foi criado um anfiteatro para feiras e shows em formato trapezoidal, garantindo boa visibilidade e capacidade para cerca de 50 mil pessoas.
Conforto e visibilidade
Dentre as mudanças, estão a extensão da cobertura, a criação de novos espaços internos — como estacionamentos, camarotes, áreas VIP, lanchonetes, restaurantes, banheiros, áreas técnicas, de imprensa e de logística operacional —, a instalação de assentos mais confortáveis e a atualização dos sistemas de segurança e monitoramento.
Além disso, o redesenho completo dos anéis inferior e intermediário garantiu maior visibilidade, eliminando pontos cegos. O anel superior foi praticamente mantido, mas recebeu novas circulações radiais e assentos individuais.
Para assegurar a acessibilidade, foram instaladas rampas e elevadores, e as escadas e áreas de circulação foram planejadas para permitir o esvaziamento do estádio em apenas oito minutos.
Paisagismo
Todo o entorno do Novo Mineirão foi tratado para se harmonizar com a paisagem da Pampulha. No projeto, foram incluídas nove praças, árvores de médio porte, um bosque de pau-ferro e fontes de água. Na área externa, árvores e vegetação reconstituem os taludes e as áreas sobre o terreno natural.
Sustentabilidade
Do ponto de vista de sustentabilidade, foram aplicadas técnicas como a instalação de usinas solares, o reaproveitamento de água da chuva, iniciativas de reciclagem, usinas solares fotovoltaicas, sistemas de captação e armazenamento de água da chuva e bicicletários.
E como está o Novo Mineirão hoje?
Antes de 2012, o Mineirão era um estádio grandioso, porém ultrapassado. Com a modernização, o Novo Mineirão impulsionou o turismo e a economia local e se estabeleceu como um importante espaço para eventos culturais e sociais, fortalecendo seu papel como ponto de encontro e integração para os moradores de Belo Horizonte.
Agora, o estádio oferece mais conforto e segurança, tornando-se um símbolo de sustentabilidade e inclusão social. A modernização valorizou sua integração com o entorno e transformou o Mineirão em mais que um espaço esportivo, mas também um destino turístico e de entretenimento.
As lições que ficam para arquitetos e aprendizados para projetos futuros
A revitalização do Mineirão oferece diversas lições para arquitetos e engenheiros que trabalham com arquitetura esportiva no Brasil e no mundo, destacando a importância de projetos que vão além do esporte e transformam os estádios em centros de convivência e lazer. Embora as mudanças tenham sido focadas no estádio, elas respondem a necessidades que buscam expandir a vida urbana e integrar o estádio ao ambiente ao redor.
Primeiramente, fica a importância de respeitar e preservar o patrimônio cultural ao implementar inovações e melhorias, integrando o antigo com o novo e mantendo a identidade dos espaços. Outro ponto é considerar o uso de tecnologias sustentáveis e a criação de espaços acessíveis e inclusivos para atender às necessidades ambientais e sociais.
Ou seja, ao projetar esses espaços, é fundamental considerar não só as necessidades de atletas e espectadores, mas também aspectos como a experiência do usuário, o design de interiores, a acústica, a iluminação e a integração de tecnologias avançadas.
As empresas por trás do Novo Mineirão: BCMF Arquitetos e Engserj
Fundada em 2001, a BCMF Arquitetos desenvolve projetos que vão de residências e edifícios comerciais a grandes instalações esportivas. Além disso, o escritório é conhecido por integrar design urbano, paisagismo e arquitetura, criando espaços que enriquecem o ambiente e atendem às necessidades específicas de cada projeto e cliente.
Já a Engserj é especializada em engenharia civil e infraestrutura. Desde sua fundação, a empresa tem se destacado pela qualidade de seus serviços e pela capacidade de entregar projetos complexos de grande porte, abrangendo áreas como construção civil, saneamento básico, pavimentação e urbanização.
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