Quando falamos de moradia, o que vem à sua mente? Provavelmente, imagens de uma casa fixa, com cômodos tradicionais que atendem às necessidades básicas. Contudo, a realidade da moradia é muito mais complexa e plural.
Em um mundo em constante transformação, com diferentes culturas, realidades econômicas e sociais, a moradia pode se manifestar de inúmeras maneiras. Ela é mais do que um teto e quatro paredes, mas sim é uma extensão de quem somos e da forma como nos relacionamos com o espaço ao nosso redor.
Neste texto, falamos um pouco sobre a pluralidade do conceito de moradia e como ele é vista por diferentes pessoas pelo mundo. Para ilustrar o assunto, convidamos Thaís e Bruno, do perfil “Aonde a Gente Tá?”, para falar sobre como é viver em uma moradia considerada não tradicional. O casal nos conta as principais sensações, vantagens e desafios de ter assumido um motorhome na Europa como lar.
Para começar, o que é moradia?
A moradia é o espaço onde as pessoas residem, um lugar que oferece abrigo, segurança e condições para o desenvolvimento da vida pessoal, familiar e social. Vai além de ser apenas uma construção física – é, principalmente, um direito humano fundamental garantido pela Constituição e pela ONU.
No contexto social e urbano, a moradia também está diretamente relacionada ao direito à cidade e à qualidade de vida, refletindo questões como acessibilidade, infraestrutura, integração comunitária e proximidade de serviços essenciais, como saúde, educação e transporte.
O conceito de “morar” e a relação das pessoas com o lugar em que vivem
O ato de “morar” vai além da função de abrigo, representando as formas com as quais as pessoas veem o espaço que ocupam. Há diferentes maneiras de se conceber o morar, e essas concepções variam de acordo com os estilos de vida e as necessidades individuais.
Existem diversas formas de enxergar e conceber o conceito de morar:
- Estilo ninho: para muitas pessoas, o lar é um espaço de aconchego e refúgio, onde buscam tranquilidade e descanso. Esses lares geralmente têm uma configuração mais confortável e acolhedora, com espaços que priorizam o bem-estar e o relaxamento.
- Estilo funcional: nesse estilo, a moradia é vista de maneira prática, com espaços otimizados e projetados para facilitar as tarefas diárias. Casas com estilo funcional costumam ser minimalistas e aproveitam ao máximo a funcionalidade dos ambientes.
- Estilo sociável: para quem gosta de interagir e receber visitas, o lar é um espaço de socialização. Ambientes como áreas de convivência, cozinhas integradas e varandas se destacam para facilitar as interações sociais.
- Estilo status: a moradia também pode ser vista como uma representação de conquistas pessoais. Nesse caso, o lar reflete o status e a posição social do morador, com destaque para o uso de materiais nobres, design sofisticado e elementos que indiquem exclusividade.
- Estilo nômade: com o aumento da mobilidade global e das tecnologias que permitem o trabalho remoto, o estilo de vida nômade digital tem ganhado espaço. Para essas pessoas, morar é estar em constante movimento, seja em motorhomes, barcos ou espaços temporários ao redor do mundo.
De acordo com Thaís e Bruno, por exemplo, pessoas que vivem em moradias não convencionais buscam viver experiências que não seriam possíveis em uma casa tradicional: “elas ensinam sobre o simples, sobre resiliência, sobre lidar com imprevistos, sobre respeitar espaços e sobre viver com menos e, ainda assim, se sentir completo”. Para o casal, o conceito de morar “está totalmente relacionado à segurança que o lugar pode transmitir. Para muita gente, viver em movimento pode ser um desafio, mas no nosso caso, nos deixa ainda mais vivos – e ter um ao outro faz com que o sentimento de lar exista”.
Conheça algumas das diferentes formas de moradia pelo mundo
As moradias fixas são o tipo mais comum, presentes em áreas urbanas e rurais. Casas e apartamentos, por exemplo, seguem uma estrutura tradicional com espaços dedicados para as funções do dia a dia, como cozinhas, salas e quartos.
Porém, quando ampliamos o conceito de moradia para além do modelo convencional, podemos observar uma diversidade de formas de habitar. Algumas são fruto de contextos culturais específicos, enquanto outras resultam de circunstâncias econômicas e sociais.
Asilo
Residências projetadas para idosos que necessitam de cuidados especiais e, muitas vezes, apoio em tempo integral. Essas moradias geralmente oferecem estrutura coletiva, com áreas comuns e assistência médica, além de promoverem interação social entre os residentes.
Barco e casa flutuante
Em várias partes do mundo, comunidades optam por morar em barcos. Na Amazônia, por exemplo, é comum famílias viverem em embarcações que se deslocam pelos rios da região. Em cidades como Amsterdã e Sausalito, nos Estados Unidos, casas flutuantes se tornaram alternativas atraentes de moradia.
Circo
As famílias circenses levam uma vida itinerante e a moradia reflete essa mobilidade. Vivendo em trailers ou tendas, esses profissionais estão constantemente em movimento, o que exige uma estrutura de moradia que possa ser facilmente transportada e montada em diferentes locais.
Contêiner
Em resposta à crise habitacional e à busca por soluções sustentáveis, moradias feitas de contêineres têm ganhado espaço por serem econômicas, rápidas de montar e fáceis de adaptar a diferentes climas. Cidades como Londres e Tóquio já utilizam contêineres como solução para abrigar estudantes e pessoas de baixa renda.
Favela
As favelas são moradias improvisadas, frequentemente erguidas sem planejamento urbano adequado, que abrigam milhões de pessoas ao redor do mundo. No Brasil, são amplamente conhecidas e refletem uma mistura de autossuficiência e precariedade. Apesar das condições difíceis, muitas favelas se tornaram centros de cultura e arte.
Iglu
Os iglus são as moradias tradicionais dos povos esquimós no Ártico. Feitos de blocos de gelo compactados, são projetados para suportar temperaturas extremas e proporcionam um espaço eficiente e funcional para sobreviver em ambientes gelados.
Moradia estudantil
As moradias estudantis atendem a um público jovem, geralmente universitários, que buscam uma solução temporária e prática para viver enquanto estudam. Elas podem ser dormitórios compartilhados, repúblicas ou até mesmo pequenos apartamentos próximos às universidades.
Quilombola
Comunidades quilombolas são formadas por descendentes de escravos africanos que fugiram e criaram seus próprios assentamentos. Suas habitações, localizadas em áreas rurais, respeitam tradições e se integram ao meio ambiente, com técnicas construtivas que utilizam materiais locais e sustentáveis.
Motorhome
Cada vez mais popular, especialmente entre nômades digitais e viajantes de longa distância, o motorhome oferece a liberdade de ter uma casa sobre rodas. Equipado com as comodidades básicas de uma casa convencional, esse tipo de moradia permite que as pessoas vivam em diferentes locais sem abrir mão de conforto.
Thaís e Bruno, do perfil “Aonde a Gente Tá?”, são grandes exemplos de como viver em uma moradia não tradicional pode ser gratificante.
Em entrevista para o Casoca, o casal, que vive em um motorhome na Europa desde 2022, afirmou que, dentre as maiores dificuldades, a logística está em primeiro lugar: “em uma casa fixa, não é preciso se preocupar com a quantia de água que vai gastar ao tomar banho ou lavar a louça. Em um motorhome, é necessário sempre pensar em detalhes como armazenamento de água e descarte do porta potti (banheiro)”.
Mas é claro que as vantagens se sobressaem, principalmente para quem tem a veia da aventura pulsando mais forte: “ter o mundo como nosso quintal, poder se sentir em casa em qualquer lugar e conhecer países que seriam praticamente impossíveis no âmbito financeiro (já viajamos por quase todos os países da Europa). Além disso, adoramos a imprevisibilidade que essa vida oferece, pois praticamente todos os dias vivemos coisas novas e experiências diferentes, e isso é muito gratificante”.
Como arquitetos e designers podem conceber as diferentes formas de moradia?
Dada a diversidade de formas de habitação, arquitetos e designers têm o desafio de conceber espaços que atendam a diferentes estilos de vida e necessidades. Criar moradias que promovam o conforto, a funcionalidade e o senso de pertencimento é essencial. Mas como transformar essas habitações em um verdadeiro lar?
- Adaptação ao contexto: é importante considerar o contexto cultural e social no qual o projeto será inserido. Soluções que funcionam em um lugar podem não fazer sentido em outro, por isso, vale estudar as particularidades do local e das pessoas que ali viverão.
- Flexibilidade e personalização: oferecer soluções flexíveis que possam ser personalizadas de acordo com as preferências e necessidades dos moradores é um diferencial. Espaços adaptáveis, modulares e que permitem diferentes configurações são essenciais, especialmente em moradias compactas ou temporárias.
- Sustentabilidade: projetos que respeitem o meio ambiente, aproveitando materiais locais e reciclados, são uma tendência importante. Além de reduzir o impacto ambiental, essas construções tendem a ser mais econômicas e eficientes.
- Design inclusivo: ao projetar, é fundamental pensar em acessibilidade e inclusão, criando espaços que possam ser habitados por pessoas de diferentes idades, capacidades físicas e necessidades especiais.
- Criação de identidade: para transformar um espaço em um lar, é importante trazer elementos que reflitam a identidade dos moradores. O uso de cores, materiais e objetos que carreguem memórias e afetos pode fazer toda a diferença.
A pluralidade da moradia é um reflexo da diversidade humana, e o papel de arquitetos e designers é acolher essa diversidade, criando espaços que, independente do formato, transmitam a sensação de lar.
Sobre Thaís e Bruno, do perfil “Aonde a Gente Tá?”
Thaís e Bruno são um casal apaixonado por viagens. Desde o início do relacionamento, em 2017, eles buscam por formas de viver menos da rotina comum e mais dos roteiros inusitados que a vida pode oferecer.
Depois de fazer um intercâmbio na Irlanda e um mochilão pela Ásia, os dois entenderam que um motorhome poderia ser uma ótima opção para o que buscavam – afinal, teriam à disposição o conforto de uma casa sobre rodas junto à experiência de viver viajando sem sentir saudade de um lugar para voltar.
Em junho de 2022, o casal decidiu largar a vida tradicional na Irlanda para viver viajando pela Europa a bordo de um Fiat Ducato 1998 (ou “Duca”, para os íntimos). Depois de alguns reparos e ajustes no primeiro mês, o sentimento de lar já começou a existir, de forma rápida e sem muitas complicações.
Hoje, Thaís e Bruno registram suas aventuras no perfil “Aonde a Gente Tá?” no Instagram, YouTube e TikTok. Ao todo, o casal acumula mais de 128 mil seguidores e compartilha tudo que faz vivendo em um motorhome.
Sobre Casoca
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